Os Pesticidas Podem Estar a Aumentar o Número de Mosquitos

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Um mosquito-tigre-asiático a alimentar-se num braço humano. FOTOGRAFIA DE BRIAN GORDAN GREEN, NAT GEO IMAGE COLLECTION

Uma nova investigação sugere que, em pelo menos uma região, os pesticidas não só estão a falhar no controlo de mosquitos, como estão a permitir que estes prosperem – matando os seus predadores.

O estudo, publicado em maio na revista Oecologia, oferece uma nova perspetiva sobre a forma como os inseticidas podem estar a afetar os ecossistemas. Os mosquitos na área de estudo, na Costa Rica, desenvolveram resistência a substâncias químicas comuns, destinadas a matar mosquitos e a extinguir outras pragas. No entanto, os predadores dos mosquitos não acompanharam essa evolução – e isso permitiu o crescimento da população de mosquitos.

Edd Hammill, ecologista na Universidade do Estado de Utah e principal autor do estudo, realizava uma investigação em plantações de laranja, no norte da Costa Rica, quando começou a perceber que os inseticidas podiam não estar a ter o efeito desejado.

“Começámos a sentir mais picadas de mosquitos nas plantações do que noutras áreas e tentámos perceber porquê”, diz Hammill.

A partir daí, Hammill e a sua equipa investigaram de onde vinham os mosquitos: das bromélias, um grupo de plantas encontrado em zonas quentes das Américas que cresce frequentemente em galhos de árvores. Os espaços cheios de água entre as folhas sobrepostas das bromélias cobrem toda uma comunidade de larvas de insetos, incluindo os mosquitos da espécie Wyeomyia abebela.

A equipa analisou as bromélias nas plantações – algumas das quais tinham sido tratadas com inseticidas durante mais de vinte anos – e em florestas não tratadas. Na Costa Rica, os produtores usam dimetoato para proteger as suas laranjeiras de piolhos das plantas, mas este inseticida também mata muitas outras espécies de insetos. Nos EUA, é amplamente utilizado em limões, milho e outras culturas.

A equipa de Hammill descobriu que, apesar de todos os tratamentos com inseticidas, as plantações de laranja continuavam a ter o dobro dos mosquitos das florestas virgens. Mas as larvas de libelinha – um dos grandes predadores de mosquitos larvais – estavam completamente ausentes das plantações.

Quando os investigadores levaram os insetos para o laboratório e os expuseram a variados níveis de dimetoato, descobriram que os mosquitos da plantação toleravam concentrações dez vezes superiores às dos mosquitos da floresta. Mas as libelinhas da plantação não desenvolveram essa resistência.

Portanto, os mosquitos resistentes parecem ter encontrado o ponto ideal: um habitat que serve de berçário para as suas crias, desprovido de libelinhas predatórias. E aí florescem.

Uma tendência mundial

Para o ecologista de insetos, Don Yee, da Universidade do Sul do Mississippi, que não esteve envolvido neste estudo, as descobertas encaixam-se numa história maior: a dificuldade contínua na gestão das populações de mosquitos. A resistência aos principais grupos de inseticidas já está disseminada por todo o mundo. É particularmente preocupante no caso de espécies de mosquito que propagam doenças perigosas.

A evolução da resistência é apenas uma consequência adversa do uso de inseticidas, diz Don Yee. A outra é um fenómeno chamado libertação competitiva, na qual os poucos sobreviventes dos tratamentos com inseticidas podem atrasar o crescimento da sua população.

“Com a diminuição da densidade de larvas de mosquito, permitimos o crescimento das restantes larvas, porque agora existem mais recursos disponíveis por unidade animal”, explica Don Yee. As larvas maiores acabam por produzir mais ovos para alimentar a próxima geração.

O novo fenómeno identificado por Hammill, onde os mosquitos resistentes escapam dos predadores não resistentes, pode aumentar as dificuldades na luta contra as doenças transmitidas por mosquitos. Hammill diz que ainda não se sabe se os mosquitos Wyeomyia conseguem transportar vírus como o dengue, um patogénico potencialmente letal que aumentou recentemente a sua prevalência na América Latina.

Don Yee salienta que outros mosquitos clinicamente relevantes têm predadores semelhantes às libelinhas. Mas saber se os pesticidas estão a dar alguma espécie de vantagem paradoxal a esses mosquitos ainda é uma incógnita.

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com


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